Foto a esquerda o ANTES, a direita DEPOIS

Sesamoidite é mais conhecida no Brasil por "aquele problema que a Xuxa teve no pé". Foi o caso público mais repercutido.


Sesamoide é um nome de um pequeno osso localizado - a grosso modo - um pouco abaixo do dedão no solado do pé. Todo mundo nasce com ele, porém alguns tem um problema de calcificação durante a gestação e esse osso não calcifica da maneira correta e fica bipartido, e alguns - em geral atletas - podem acabar desgastando esse osso devido ao impacto causado ao longo da vida. Diz a Xuxa que o problema dela foi devido ao excesso de uso de botas de salto alto.



No meu caso, provavelmente nasci assim e só me dei conta desse problema em dezembro de 2017. Um belo dia acordei e ao me levantar simplesmente não conseguia pisar no chão. Na época não praticava nenhuma atividade que poderia ter causado nenhum trauma, simplesmente aconteceu. Foi uma dor tão forte que eu não tive outra escolha do que ir direto a um ortopedista investigar. Após alguns exames clínicos e um raio-x, o médico logo afirmou que se tratava do osso sesamoide que estava com um pequeno edema. Me receitou um remédio para dor e me dispensou.

Pé em maio de 2017

Bolsa de gelo diário

Acontece que a dor não passava, só piorava. Voltei ao médico e ele me prescreveu 20 sessões de fisioterapia, mais medicamentos e me indicou que eu fizesse uma palmilha especifica para o meu pé. Uma palmilha que tinha uma espécie de "travesseiro" para acomodar o dedão e aliviar um pouco a pressão feita ali na região. Usei essa palmilha, nada confortável, por três meses até que minha cachorra me fez um favor e comeu ela.



O tempo passou e eu terminei minhas sessões de terapia e a vida seguiu normal. Eventualmente, meses depois, me mudei para o Canadá e ai foi quando tudo piorou. Em março de 2018 já sem saída novamente, e com as dores muito fortes, voltei procurar um médico. E ai que a novela do sesamoide começou. O sistema de saúde do Canadá é público e - diria - despreparado. Até eu conseguir ser atendido por um ortopedista, de fato, demorou 2 meses. Quando cheguei na primeira ortopedista ela chegou a considerar que eu pudesse ter uma doença chamada 'gota', mesmo eu afirmando que já tinha o diagnóstico do que era. Após exames de raio-x, ela ficou mais confusa ainda e achava que talvez ela estivesse vendo um pequeno fragmento num osso, mas não tinha certeza.



A solução dela foi me encaminhar para uma clínica de ortopedia especializada em atletas. Chegando lá uma doutora me atendeu e me disse: "Se for isso que você está me falando eu teria que te colocar numa lista de espera para realizar essa cirurgia, e a espera é de no mínimo 1 ano.". Isso já tinham se passado mais de dois meses desde a minha primeira visita ao médico. As dores já eram insuportáveis. Eu já tinha entrado com atestado médico no trabalho inúmeras vezes. Até que ela se rendeu e encaminhou meu caso para um outro ortopedista naquela mesma clínica. Nesse momento eu já tinha desistido de resolver esse problema.



No dia da consulta, agora já tinham passado três meses desde minha primeira queixa, a solução do médico para sanar meu problema temporariamente foi a aplicação de uma injeção de corticoide direto no local. Como se fosse uma drenagem no local do edema. Eu fui na lua e voltei 100 vezes. O tamanho da agulha que ele enfiou no meu pé eu nunca tinha visto. Isso que, ele primeiro enfiou uma agulha enorme que era a "anestesia" e depois enfiou uma outra maior e mais grossa ainda que era a 'solução do problema'. 



A cena era tão assustadora que minha esposa que me acompanhava não teve coragem nem de olhar. E essa injeção milagrosa só me ajudou sentir menos dor por duas semana, depois que passou o efeito, voltou tudo de novo.




Após isso tudo, já era mês de setembro e eu  já estava usando uma bota ortopédica para ajudar a pisar, já tinha comprado muletas e uma espécie de andador. Fora os incontáveis dias que me afastei do trabalho por não poder andar. Voltei ao médico acompanhado de um amigo para servir de testemunha, e ambos ouvimos o médico dizer: "não tem mais nada que eu possa fazer por você aqui.".



E assim eu segui com esse sofrimento até maio de 2019. Quando decidi voltar para o Brasil para me tratar. Eu já não aguentava mais. Fazia parte da minha rotina chegar em casa, todo dia após o trabalho, e colocar o pé pra cima com uma bolsa de gelo. Remédio para dor eu já nem tomava mais porque meu estômago já tava pedindo socorro, mais que o pé.



Chegando ao Brasil, no dia seguinte já tinha consulta agendada com um excelente ortopedista. Na primeira consulta já fez o raio-x e já falou de cara "sesamoidite". Me pediu uma ressonância magnética e o laudo do exame só afirmou o que eu já sabia há quase dois anos. Só que agora o caso já estava bem mais sério. O osso já tinha deteriorado muito, o edema em volta do local já estava tomando conta de quase toda região superior do pé e ele não teve outra dúvida que não fosse solicitar a cirurgia.

Eu e meu patinete que mantém a perna elevada e facilita a locomoção




No começo ele me deu duas opções: Ou ele tirava uma parte do osso ou ele tentava juntar a fratura com um pequeno parafuso. Eu comecei a bateria de exames de risco cirúrgico. Depois do meu aniversário a dor no pé cresceu de uma maneira que eu nunca tinha sentido antes. Até que finalmente com tudo pronto a cirurgia ocorreria no dia 17 de junho de 2019.

Ressonância magnética do pé direito

Holter cardíaco - Monitoramento 24h

Teste ergométrico


Quando o Dr. Domingos Sávio abriu meu pé, ele constatou que o osso já estava necrosado, ou seja, já não mais circulava mais sangue no osso e a única opção foi extrair por inteiro o tal do osso sesamoide. O que para mim foi um alívio pois, não estava muito contente com a opção de ter um parafuso no pé.



Pré operatório
A cirurgia foi um sucesso em todos os sentidos. Levei um anestesia local, mas nem me lembro desse momento pois já estava mais do que dormindo.  Durou cerca de 1 hora e 12 horas depois eu tive alta do hospital. As recomendações eram de não colocar o pé para baixo nas primeiras 72 horas e depois ir aos poucos abaixando a perna mas sem colocar peso e força sobre o pé. Após uma semana da cirurgia o inchaço já diminuiu bastante mas continuo com os pontos. As vezes sinto umas pontadas de dor, no local do corte, mas nada que eu já não vinha sentido por dois anos. 

O maior incomodo é quando o pé está para cima e quando vou me locomover - com muletas - ao posicionar a perna para baixo o fluxo sanguíneo é muito forte e causa uma espécie de dor. Mas tudo bem.



Pós cirurgia com o corte lateral para e retirada total do osso

Finalmente me livrei daquela pequena parte que me causava tanta dor e sofrimento durante dois anos na minha vida. A estimativa é de que em dois meses eu já consiga me locomover e voltar as atividades normais do cotidiano.