Peguei meu carro e fui chorar!

Mas 10 minutos antes...

Um leque de enredos passando pela minha cabeça.
O mês 4 já esta aí e eu estou aonde?
- Num labirinto sem fim e sem nenhuma chance de saída.
No meu passeio eu dou nome aos vilões e sempre chego a conclusão que o errado na verdade sou Eu.
óbvio!

E eu me pego pensando qual foi a última vez que eu realmente me senti feliz. Em quando foi que eu não soube que toda ação tem sua consequência. Eu sou o cara das consequências. EU sempre pago para ver, sempre!
No momento eu acho que o juros dessa minha escolha está absurdamente alto e impagável.
Me peguei pensando em futuro. Por que! Pra que... Pra onde?
Abismo....................................!

Consequências são reflexos de suas escolhas... E as escolhas mesmo sendo ‘erradas’ nos ajudam a crescer e evoluir e blá blá blá.... Fiquei pensando nessa autoajuda cafona e só acabei mais indignado.
ATÉ QUANDO VOU TER QUE SOFRER CONSEQUÊNCIAS? Elas são ruins, cara.
Também me peguei pensando em onde pode ser que eu esteja errado e...
VAI SE FUDER!!

Onde foi que eu assinei que o errado sempre serei Eu.
Não hoje!

E ai eu acabo chegando à conclusão que é óbvia há anos; eu me sinto preso, enclausurado, engaiolado aqui. Eu não quero viver isso. E assim me torno um rebelde ‘sem causa’, sendo que é simples; eu não sei viver preso. Passarinho quando aprende a voar ele sai do ninho e cai no mundo.
 Mais um milhão de histórias e falas e momentos que nunca aconteceram surgem como cinema na cabeça, nem escuto mais o som no carro, tudo em função dos meus pensamentos.
E quando eu chego ao ápice do negativismo, me lembro exatamente o porque de tanta revolta.


Por que ela?

E com essa pergunta eu não me contive e nem sei de onde veio, mas eu comecei a chorar muito. Em prantos segurando o volante!
Minha cabeça adorando, era emoção pra criar cenários. Mas ai que estava à pegadinha, dessa vez não era eu pensando, era eu sentindo.
A realidade!
As imagens eram um mix de tudo que ela já tinha feito por mim, desde o dia em que nos conhecemos até as cenas de terror de ontem à noite.
Era óbvia minha ira. Tudo tinha fundamento. De repente meus vilões me derrotaram numa sacada de mestre. E eu chorei mais ainda.
Me lembrei de vários detalhes que era só nosso. De como não havia uma memória negativa, só amor!
E quando eu repeti pra mim mesmo: Eu te amo, eu te amo tanto!” eu chorei mais do que achava que era possível.

E então de repente, no meio do choro mais doído eu comecei a reparar como era eu chorando, porque isso é muito raro. Eu simplesmente não choro.
“Pai, Ele tá mentindo, nem doeu” – “Não meu filho, seu irmão só chora quando realmente sente dor.”.  Eu deveria ter uns 10 anos de idade e me lembro perfeitamente desse diálogo entre meu irmão, que havia me dado uma surra, e meu pai que apartava.
E realmente era isso, eu só choro quando dói e por um acaso tá doendo muito. 

Então chorei. E fui percebendo coisas a meu respeito que eu não sabia, por exemplo:
Eu choro calado, no mudo. Eu só conseguia ouvir minha respiração.
Mas eu também choro meio gago, sabe como é? Meio que cor-tan-do a dor. Percebi pela respiração, más se eu falasse chorando seria um desastre. Melhor calado.
Tenho muitas lágrimas no estoque, porque hoje, eu vou te falar. A sorte que eu estava de óculos escuros, ninguém no trânsito viu.
E a última coisa que eu reparei e pensei foi ‘Putz, não posso fazer novela e chorar de verdade, por que se acontecer isso, vai ser mico’. No caso tinha surgido uma bola de secreção do nariz (estou meio gripado) que estourou sozinha – como se fosse uma bola feita de chiclete.

E então eu estava chorando de novo, na verdade, ainda!
E eu só conseguir falar uma palavra em ‘voz alta’;
-Tá bom já, chega!

Um pedido ecumênico apelando para todos.
Chega de sofrimento!

Há cinco meses minha Vó, e por bilhões de vezes mãe também, sofreu uma isquemia cerebral bilateral. Bem resumido e porcamente falando é um “infarto no cérebro”. Entope a circulação de sangue e começa a degenerar as funções. Tem cinco meses que todos sofrem e ela mais ainda e eu ainda mais que todo mundo junto, eu aposto.
Podemos contar nos dedos às vezes que minha Avó – Dona Juracy para a devida apresentação – foi ao médico sofrendo de alguma coisa. Isso pode ser muito bom e foi muito ruim. Bom porque sempre achamos que ela estava boa, que não dava trabalho, chegou aos 86 anos ‘inteirona’. Mal porque agora vemos que esse pavor que ela tinha de hospital e médicos se tornou seu maior inimigo. Dizem que aquilo que evitamos pode acontecer...
Sempre será melhor prevenir do que remediar. Fica de lição e alerta.

Mas imagina você, minha avó era a que fazia a nossa comida, limpava a casa, nos arrumava para o colégio, quando conseguia nos levava para igreja com ela e sem pedir muito ainda nos levava para viajar com ela. E se precisasse nos enfia o cacete.
Totalmente independente, eu nunca vi um defeito nela. Sempre, sempre, sempre uma verdadeira dama. Mesmo sendo extremamente humilde, nunca perdeu a classe. Às vezes acordava e ia cortar os próprios cabelos, e ai de quem falasse alguma coisa.
Ontem eu vi uma senhora sofrendo e quase indo embora. Aquela imagem passou longe de quem ela realmente é. Eu entrei em estado de choque, não era possível.
Desde que ela ficou acamada, que é muito difícil pra mim passar muito tempo ao lado dela. Eu sei que é melhor para o paciente você mantê-lo sã, trazendo informações, fazendo o cérebro trabalhar. Mas é difícil, dói, é algo que eu jamais pensaria ter que passar. Jamais!
Hoje ela não fala mais, só imite uns sons altos e indecifráveis. E depende de duas enfermeiras para tudo. No primeiro mês de internação ela ainda conseguia dizer alguns nomes, e o campeão segundo as enfermeiras era Eu. – Rodolfo – era o que ela mais chamava.

Entendem minha dor?

Ontem quem gritou meu nome por ela foi a enfermeira. Os médicos mudaram sua dieta, que é por sonda intestinal e por algum motivo ela não se deu bem na última refeição do dia e regurgitou tudo e infelizmente acabou aspirando um pouco para os pulmões. A enfermeira gritava ajuda, eu fui correndo e minha mãe veio socorrer também. Chamamos os paramédicos, pois ela estava com dificuldade de respirar e em dez minutos a levaram para o hospital. A pressão era 20x10. Eu gritei “Leva ela logo!”. Um dos médicos, em voz bem baixa me respondeu: “A gente leva depois que avalia que precisa de socorro hospitalar, agora que checamos tudo, vamos leva-la”. Eu fiquei mudo e só pensei naquele cavalinho usado nas edições do programa pânico me dando um coice.
Por 10 minutos vivemos na pele daqueles programas policiais de emergência 911. Meu irmão caiu na cadeira com queda de pressão. Era muito pra todo mundo.
Ela permanece estável e em observação no hospital até últimas informações. Se tudo tiver bem, voltará para casa amanhã (27/03/14).


Finalmente, meu passeio já estava quase no fim e eu já estava quase chegando à minha casa, quando dei por mim que ainda estava naquele choramingo, ai fui abrindo as janelas do carro e respirando fundo. Limpei minha cara e nem quis olhar no espelho como deve ser eu chorando. Vou deixar essa descoberta para outra ocasião de choro. Então respirei muito fundo e abri o portão de casa sem pretensão de causar uma epidemia de choro descontrolada em todos.
E de repente meu problema é problema nenhum diante de tanto sofrimento. Estaciono o carro na garagem e venho direto ao computador para digitar esse momento peculiar da minha vida. O dia em que eu chorei e muito!
Por mim e por ela.

Chega de sofrimento!

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O sofrimento acabou numa manhã de quinta-feira 03 de Abril! Ela esperou eu entrar no quarto, quando a enfermeira gritava seu nome desesperadamente, ela deu seu último suspiro, tudo muito sereno. Acabou ali seu sofrimento, o nosso sofrimento. 

Vó Juracy, você é e sempre será o grande amor da minha vida!